cada vez que eu vejo um gatinho devolvido, ou uma adotante me procura avisando que vai devolver, a minha primeira reação é ficar revoltada.
é fato que não consigo entender como alguém acha que pode fazer algum bem para um animal que não entende nada o que acontece, acha que ganhou lar e depois volta para uma gaiola ou um quartinho.
claro que eu acredito que existem casos que não têm o que fazer mesmo. sempre acho que o gatinho tem que ter paz, o gato que já estava na casa tem que ter paz e a família tem que ter paz. gatinhos são feitos para trazer alegria nunca o caos.
a pergunta que cabe aqui é quando saber que é adaptação e quando saber que não deu certo mesmo? bom senso, infelizmente, ao contrário do que a maioria pensa, não é item obrigatório. ele é opcional e, pior, ele varia de acordo com a lógica de cada um.
não estou aqui para julgar ninguém. muito menos sou veterinária para fazer consultas ou receitar algum tipo de remédio ou mesmo atitude para melhorar o convívio de gatos recém-adotados com os demais gatos da casa. mas acredito que algumas histórias ilustrem bem o que uma boa dose de paciência é capaz de fazer.
eu ganhei o sr. nicolau em abril de 2006. ele chegou em casa com cerca de quatro meses, vindo de uma ninhada de uma gata que dava suas voltinhas e acabou engravidando.
[senhor nicolau]
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o nico sempre foi meio desconfiado, arteiro e sem vergonha. ele brincava com qualquer coisa, destruiu o forro da minha cama e do meu sofá, além do braço do sofá ele subiu nas minhas plantas e mordia meus pés de madrugada.
foi meu filho único por 2 anos e em nenhum momento me estressei com as coisas que ele fazia. minha mãe me ensinou que
qualquer coisa que o dinheiro possa pagar NÃO é caro. sofá, cama... tudo resolvível diante da alegria de ter uma vidinha felina passeando pela casa.
neste época eu conheci o
aug. nunca tinha tido gatos e precisei pesquisar o comportamento deles para ajudar na criação do nico. uma das matérias do site falava sobre
adotar dois gatinhos em vez de um. pensei nisso tempos. de fato, depois que o nico chegou, evitei viajar e me ausentar por muito tempo, pois morria de pena de pensar que ele ficaria só, sem companhia alguma durante longos períodos.
depois de dois anos convencendo o gabriel, meu marido na época, decidi pegar o segundo gato. escolhi ele no site levando em consideração um gato adulto com poucas chances de adoção e que estivesse muito tempo esperando um lar.
[miguel cara preta]
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a susan me alertou que o dálmata [nome do miguel no aug] era um gato adulto e genioso. e por eu ter um gato com o mesmo perfil, que a adaptação poderia ser difícil, mas que com paciência, com o tempo as coisas se ajeitavam.
os primeiros dias, o miguel passou escondido embaixo do sofá. eu morria de dó e levava comida para ele. percebia que de noite ele saia de lá e ia usar a caixinha de areia. com alguns dias, ele passou a sair com mais freqüência. nunca se deixava tocar e sempre estava num lugar de fácil fuga.
as perseguições do nico eram insuportáveis. fora isso, ele ficou extremamente magoado com a gente. ficou dias sem me olhar nos olhos e não se deixava mais tocar. cheguei a pensar que eu tinha prejudicado meu gato e que ambos estavam sofrendo. mas quando isso vinha a cabeça, eu lembrava que o segredo era simples:
PACIÊNCIA!
e foi o que eu fiz. rezei, chorei, implorei, tentei não pensar muito. com mais ou menos um mês notei um calombo no nariz do miguel. entrei em pânico e liguei para a susan, que falou que ele não tinha nada. que era perfeitinho. quando consegui chegar perto, percebi que era uma feridinha, fruto de uma das milhares de brigas entre os dois.
em algum momento eu tive certeza que eu nunca mais teria paz. mas hoje, depois de dois anos que o miguel é meu filho, posso falar que a melhor coisa que aconteceu na minha vida e na do nico foi ele ter chegado. eles brincam, se lambem, dormem juntos, aprontam. são verdadeiros companheiros.
[primeiras demonstrações de melhora dos meninos]
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tenho na memória que até uns 8 meses depois da chegada do miguel, eu conseguia ver pequenas melhoras na adaptação dos dois. um carinho ali, uma dormidinha acolá. um chameguinho discreto que cresceu.
o comportamento do nico, que sempre foi independente, ficou mais sociável. hj ele pede carinho, deita no meu colo e até arrisca umas lambidinhas em algumas amigas que freqüentam minha casa, coisa que nunca acontecia, pois ele sempre ia para debaixo da cama na presença de desconhecidos.
não dá para saber se um gato se adapta em uma semana. não dá para saber se ele está sofrendo. não tem como, entende? gatos precisam de tempo. uns mais que outros. tem gato que em dois dias tá amigo do novato. já outros, como a rita [
confira um pedacinho da história dela] morrem de medo de tudo e vivem escondidos pela casa mesmo depois de um ano no ambiente.
o que resta saber é se vc está mesmo preocupado com o bem estar do animal ou se não quer ter que passar por meses de adaptação. porque me desculpem quem não concorda, mas desistir em quatro dias, para mim, é precipitado demais.